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27
Abril
2023
Entrevista | Ricardo Campos, presidente do Fórum da Energia e Clima

“Juntar vontades para vencer a crise climática e fazer do Alentejo um exemplo”

O projeto “Guardiões” é uma iniciativa do Instituto Politécnico de Portalegre (IPP), que conta com a parceria da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Alentejo (CCDRA) e com o Fórum da Energia e Clima (FEC).

O projeto tem o enfoque nas problemáticas relacionadas com as alterações climáticas e o seu objetivo é sensibilizar e promover a compreensão do fenómeno das alterações climáticas junto da sociedade civil e potenciar o desenvolvimento das melhores soluções aplicáveis à região do Alentejo, capazes de contribuir para o aumento da resiliência aos impactos decorrentes das alterações climáticas.

A primeira Energy and Climate Summit, organizada pelo FEC, teve lugar no Instituto Politécnico de Portalegre no contexto do projeto “Guardiões”, e superou em muito as expectativas dos organizadores. Ricardo Campos, presidente do Fórum da Energia e Clima, reconhece que o evento foi bem-sucedido em envolver a Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) na discussão de ações que ajudem a ultrapassar a crise climática, ao mesmo tempo que esta ação ajudou a consolidar a ambição de tornar o Alentejo num laboratório vivo de projetos de transição energética e de economia circular.

Foi sobre o projeto “Guardiões” e a primeira Energy and Climate Summit que falámos com Ricardo Campos, presidente do Fórum da Energia e Clima.

Quais os objetivos do projeto “Guardiões”, que entidades envolve e que papéis desempenham?

O projeto “Guardiões” é uma iniciativa que juntou o Politécnico de Portalegre, o Fórum da Energia e Clima e a Comissão Coordenadora de Desenvolvimento Regional do Alentejo (CCDRA), e que pretende transformar a região do Alentejo num laboratório vivo de projetos de transição energética e economia circular, a partir de um grande envolvimento do setor público e do setor privado, e de uma forte sensibilização da sociedade civil. Temos uma equipa multidisciplinar que desde novembro do ano passado trabalha na produção de conteúdos e projetos adaptados ao território e com um mandato claro dos líderes deste consórcio.

De que forma esta iniciativa pretende contribuir para fazer do Alentejo um exemplo na descarbonização e transição ambiental?

Por parte da CCDR Alentejo, o objetivo de ter um Alentejo que seja exemplo na ação climática e na adaptação a uma realidade que já é de alteração climática. Por parte do Politécnico de Portalegre, a linha de ação de pôr a ciência ao serviço do território e de soluções para o desenvolvimento social e económico da região. Finalmente, por parte do Fórum da Energia e Clima, organização internacional na qual está toda a CPLP, a vontade de unir a ciência, a política, as empresas e as pessoas para que nesta década decisiva consigamos vencer a crise climática e de recursos em que estamos mergulhados.

Que balanço faz da Energy and Climate Summit, que teve agora lugar em Portalegre, e que foi o primeiro grande evento no âmbito deste projeto?

A primeira edição do Energy and Climate Summit superou em muito as expectativas. Dentro da cimeira foi realizado um congresso técnico, que envolveu ministros, reitores de universidades e investigadores de países como Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné Equatorial e Portugal, o que resultou não apenas em palavras mas já em ações concretas. Foram estabelecidos acordos para a criação de novos programas de investigação e ofertas formativas dentro dos países da CPLP.

Que importância atribui ao envolvimento de personalidades e responsáveis dos países da CPLP? É preciso agradecer a todos a autêntica e genuína vontade de construir e de fazer mais e melhor dentro do espaço da língua portuguesa. As instituições presentes nesta cimeira mostraram que é possível construir novas realidades. Estamos em emergência ambiental, precisamos de reduzir as emissões, e uma academia ao serviço da economia verde do futuro é essencial para que o consigamos fazer.

No âmbito do projeto “Guardiões” está previsto um extenso calendário de eventos e ações durante o próximo ano. Pode antecipar-nos o que está previsto, quais os temas a abordar e que entidades se irão envolver neste programa? O projeto “Guardiões” já iniciou ações de sensibilização em toda a região do Alentejo. Numa fase inicial, junto do público mais jovem, nos diferentes níveis de ensino. Estão neste momento a ser ultimados conteúdos que são da maior relevância científica, com o trabalho dedicado de uma equipa multidisciplinar que inclui economistas, engenheiros, e especialistas em alterações climáticas e políticas do desenvolvimento sustentável.

Existe também )á um projeto de medição da qualidade do ar na região, que esperamos implementar ainda neste primeiro semestre. Também iniciámos um diálogo com todos os municípios do Alentejo, a partir das Comunidades Intermunicipais para que, em estreita ligação com o Politécnico de Portalegre e a CCDRA, possamos dinamizar a apresentação de projetos no âmbito do Portugal 2030.

Ao mesmo tempo irão acontecer, até abril de 2023, as cinco cimeiras internacionais previstas no projeto "Guardiões". Depois desta primeira sobre "Educação e Conhecimento", iremos realizar em Sines, a 2 e 3 de junho, outra sobre "Energia e Transição justa", cumprindo também o papel de trabalhai; em conjunto com os atores locais, na consensualização de uma transição justa no pós-fecho da Central de Carvão de Sines. Em outubro, vamos estar em Beja, na terceira cimeira, a falar sobre a água e sobre os desafios de uma melhor gestão dos recursos hídricos.

Em janeiro do próximo ano, em Évora, terá lugar a cimeira sobre Transportes e Mobilidade, e daqui por um ano estaremos novamente em Portalegre, no Dia da Terra, a terminar este ciclo no Alentejo com um tema também muito importante, o da Economia Circular.

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Sustentabilidade é pilar da estratégia regional

Na próxima semana, de 9 a 14 de maio, a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Alentejo realiza em Évora a cimeira anual do projeto europeu “Auroral”, que tem como objetivo considerar o Alentejo como região piloto no desenvolvimento de uma “smart community”, desenvolvendo e aplicando novas tecnologias.

Para a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Alentejo (CCDRA), todos os momentos que juntam diferentes entidades da região a refletir sobre um tema como a sustentabilidade, que é estruturante para o Alentejo, são momentos de grande importância, sublinha Carmen Carvalheira, vice-presidente desta entidade.

A CCDRA atribui prioridade à promoção de soluções que possam fazer da região do Alentejo um exemplo na descarbonização da economia e na transição para uma economia mais circular e sustentável. Para a responsável, “a CCDRA tem aumentado consideravelmente a sua participação, enquanto entidade parceira e promotora de vários projetos, em diferentes áreas onde a sustentabilidade e a circularidade constituem um pilar da estratégia regional”.

Carmen Carvalheira dá diversos exemplos desta prioridade: “Promovemos o Fórum de Economia Circular; participámos no projeto europeu ‘Cirpro’, que recolhe boas práticas de compras públicas circulares, e trabalha na promoção, disseminação e adaptação dessas boas práticas; temos o projeto de ‘Transporte a Pedido do Alentejo’, com o desenvolvimento de uma plataforma de transporte flexível que tem como base a partilha de transporte e otimização de viagens. Também participámos no Plano de Mobilidade Sustentável e na elaboração de uma Estratégia Regional de Adaptação às Alterações Climáticas”.

Já na próxima semana de 9 a 14 de maio, a CCDRA irá realizar, em Évora, a cimeira anual do projeto europeu “Auroral”, que tem como objetivo considerar o Alentejo como região piloto no desenvolvimento de uma “smart community”, desenvolvendo e aplicando novas tecnologias. “Este envolvimento da CCDRA, que noutros casos ainda se envolve como stakeholder sempre que for demonstrado o interesse para a região, mostra a importância que esta entidade atribui às soluções referidas”, conclui.

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Politécnico de Portalegre tem sustentabilidade como área prioritária

No contexto das missões que lhe estão atribuídas, o Instituto Politécnico de Portalegre tem sido pioneiro nos domínios da sustentabilidade, das alterações climáticas, da transição energética e da economia circular. O presidente do Instituto Politécnico de Portalegre, Luís Loures, entende que a realização de eventos como a Energy and Climate Summit, e a coordenação de projetos como o “Guardiões”, “constituem uma representação paradigmática da relevância que atribuímos a estes domínios científicos”.

O politécnico tem um compromisso assumido com a integração transversal destas temáticas nos cursos, na investigação, e na relação que mantém “não só com as empresas, mas com todos os parceiros, sejam estes do setor público ou privado, e atribui à formação, investigação e desenvolvimento no domínio das alterações climáticas, da descarbonização e da transição energética uma enorme importância”, sublinha este responsável, que as considera como “áreas de intervenção prioritária, seja ao nível da formação, da investigação, da capacitação ou do desenvolvimento tecnológico, há muito tempo”.

Luís Loures dá diversos exemplos deste compromisso: “Além dos vários cursos que temos ligados a estes domínios, seja ao nível da licenciatura ou do mestrado, temos vindo a desenvolver um conjunto de pós-graduações, muito direcionadas à formação ao longo da vida. Estas permitem que todos os profissionais, independentemente do seu setor de atividade, possam reforçar as suas competências nestes domínios e ter um contributo mais efetivo para um planeta mais sustentável.

Paralelamente, enquanto instituição de ensino superior e de investigação temos desenvolvido um conjunto de projetos de natureza aplicada fundamentados em princípios de sustentabilidade, de economia circular e de descarbonização, que, entre outros aspetos, têm por base a valorização de resíduos e subprodutos, e a utilização de matérias-primas de substituição e a descarbonização da economia”, conclui.

 

Publicado por: Jornal de Negócios (https://blob.invisiblemeaning.com/files/articles/2022/04/27/681c7932-9d89-4052-b397-82d1a3757375/jnegocios_27042022_922_.pdf)

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